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sábado, 28 de setembro de 2013

RÁDIO. Comentar jogo de futebol é uma arte

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Sábado, 28 de setembro. 18h20min. O relógio na calçada do IFCE também marca 28 graus. Na 13 de maio, um ruge ruge de gente. São os que saem do Presidente Vargas. O jogo entre Fortaleza e Luverdense acabou. Tráfego parado. No rádio começa Wilton Bezerra a comentar a vitória do tricolor por dois a um. Ouvi-lo é certificar-se de que comentar futebol é uma arte. Pelo menos para quem sabe.

Mais do que uma simples falação sobre futebol, a conversa de Wilton é uma reflexão sobre 'o fazer bem', qualquer que seja o que se faça. Wilton não é repetitivo. Usa imagens comparativas que fixam até quem é avesso a futebol. Ao cobrar mais eficiência dos jogadores do Pici, extrapola o espaço do campo de jogo para o campo da vida. E todos nos alimentamos com suas palavras. 

Profissional, não se importa quando o repórter Eudes Edson Ferreira interrompe a sua fala para ouvir o técnico do Fortaleza, referendar tudo o que ele acabara de dizer. E ao retornar o som à cabine, você tem mais uma lição de Wilton ao dispensar o pedido de desculpas do repórter, por deixar escapar uma indignação ao esguicho dágua do campo, perturbando o trabalho de todos. "Há ocasiões em que é preferível um palavrão dentro do contexto, do que um eufemismo que possa encobrir a sua indignação", diz Bezerra. 

O tráfego na 13 de Maio parece em dia de procissão. Tudo congestionado. Em frente a uma parada de ônibus da UFC, ouço o comentário da violência extra jogo. Um torcedor foi baleado. Mesmo instante, ao lado do meu carro, um motoqueiro do Raio para o veículo e informa pelo rádio ao seu chefe que a situação está sob controle. Não sei se em referência ao caso da violência ou ao trânsito. Que piora ainda mais. Agora, uma viatura da PM alardeia por passagem. 

Quando consigo sair da embrulhada, Wilton está de volta ao comentário e a analisar os gols. Nesse meio tempo, alcanço a Bezerra de Menezes. O digital da praça da Igreja das Dores assinala 18h53min. Nesse exato momento Wilton se despede. Eu saio da AM e me transporto para o FM, onde Gustavo Vieira, na Tribuna Band News, noticia o caso da torcedor baleado. Que morreu.

2 comentários:

José de Arimatéa dos Santos disse...

Wilton Bezerra, grande comentarista esportivo desde a rádio Progresso de Juazeiro do Norte ao lado do narrador "Foguinho" lá nos anos 70.
Suas palavras, Nonato, são magistrais e uma verdadeira crônica de um momento de fim de uma peleja futebolística.

edson ferreira disse...

Caro Nonato, o repórter citado em sua apreciação sou eu, Edson Ferreira, e não Eudes.
Abraços !